Brasil completa 20 anos sem avanço no ensino médio
Em 20 anos, alunos de escolas públicas e privadas de ensino médio do PaÃs não melhoraram em nada sua aprendizagem em Português e Matemática. A nota dos estudantes em 2017 no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), exame oficial cujos dados foram divulgados nesta quinta-feira, 30, é mais baixa do que a registrada em 1997. A rede particular caiu menos, mas também piorou ao longo dessas duas décadas.
"Os alunos sabem menos agora do que sabiam em 1997. O ensino médio não está agregando nada a eles", afirmou ao "Estado" o ministro da Educação, Rossieli Soares. O ensino médio é considerado a etapa mais crÃtica da educação brasileira. O governo Michel Temer aprovou, no ano passado, uma reforma, que flexibiliza o currÃculo dessa etapa e cria múltiplos percursos acadêmicos para esses jovens. Por dificuldades na implementação da proposta e reação negativa de parte da comunidade escolar, alguns candidatos à Presidência têm defendido revogar a mudança. O ensino médio tem cerca de 7,9 milhões de matrÃculas - cerca de 88% na rede pública.
Os resultados mostram que sete em cada dez estudantes do ensino médio tiveram desempenho insuficiente nas duas disciplinas. Isso significa que os jovens, na maioria entre 14 e 17 anos, não conseguem identificar informações explÃcitas em uma receita culinária ou calcular um porcentual. Em Português, a média em 20 anos foi de 284 pontos para 268 pontos (em uma escala de zero a 500). Já em Matemática, o recuo foi de 289 pontos para 270 pontos. E, em todo o perÃodo, as oscilações de resultado nunca ultrapassaram o desempenho de 1997. Além disso, a distância entre a rede particular e a pública aumentou.
Segundo especialistas, o mais preocupante é que o ensino fundamental vem melhorando desde o inÃcio dos anos 2000, mas isso não se reflete no médio. Atualmente, os alunos de 1.º ao 5.º ano têm o melhor desempenho, com cerca de 25% no nÃvel avançado de ensino. "Acreditávamos que esses alunos iriam começar a avançar e chegar ao médio, e tudo melhoraria como uma onda, mas não aconteceu. A hipótese mais pessimista é a de que todo o ganho do 5.º ano está sendo perdido", diz o professor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), Reynaldo Fernandes.