Médicas residentes do HMB ajudam vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul
Elas foram as primeiras médicas a chegar a Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, um dos municípios mais atingidos pelas atuais enchentes. Com as ruas tomadas pelas águas que transbordaram dos rios Gravataí e dos Sinos, a equipe formada pelas médicas Mirthes Monteiro Ortega, Alanna Paulla Marques Simão, Lethícia Cristinne Araujo de Campos e Júlia Incáu Guazzelli, residentes do Hospital Municipal de Barueri (HMB), encontrou um cenário desolador, com muitas pessoas abrigadas em escolas e outros pontos da cidade, todas precisando de muita ajuda.
“Foi muito assustador ver a água até o teto das casas, isso chocou muito! Mas o mais assustador pra gente foi ver a vulnerabilidade das pessoas nos abrigos. Infelizmente, presenciamos e recebemos queixas de abusos contra as mulheres, contra as crianças, atos de violência doméstica, e com a ajuda de algumas pessoas, influenciadores que estavam lá, foi aberto o abrigo exclusivo para crianças e mulheres”, conta Júlia.
Muito além da assistência médica
As médicas, residentes em pediatria, tiveram de atender não só crianças, mas todos os que precisavam de cuidados, de zero a 90 anos. “Essa experiência, apesar de todo o cenário crítico e de muita tristeza, foi muito valiosa. Ultrapassou as barreiras da assistência médica. Todas nós percebemos como é importante a doação em todas as frentes, sendo ela objetiva ou subjetiva, como a que se doa o seu tempo, a sua escuta. Tiveram momentos de brincadeiras com as crianças que trouxeram um certo conforto para todos. Foi muito gratificante, nesse sentido, de pensar na resiliência, na capacidade de transformar sentimentos e cuidar não só com assistência médica, mas também humanitária”, declara Mirthes.
Questionada sobre como as residentes do HMB chegaram até o local, ela diz que recebeu ajuda de uma empresa privada, onde o irmão trabalha, que pagou as passagens, assim como da atual gestão do HMB e do Pronto-socorro Central de Barueri, que contribuíram com medicamentos e materiais como gaze, algodão, agulha, insulina, entre outros. “Lá nós atendíamos em média 200 pacientes por dia. Não era só em hospital, mas também abrigo, aonde íamos de colchão em colchão, de família em família. Conversávamos com cada um, víamos do que precisavam. Não era só atendimento médico, tinham várias outras questões, curativos, lavagem nasal na área de pediatria. Também a escuta, renovação de receita, tudo o que precisava a gente estava assessorando”, relata Allana.
As residentes ficaram do dia 7 ao dia 12 de maio prestando socorro às vítimas. As mais graves que elas encontraram foram transferidas para hospitais estruturados, como o Hospital Universitário (HU), ligado à Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), o da Cruz Vermelha e o de Campanha. "Como nós fomos umas das primeiras equipes de médicos a chegar lá, encontramos as pessoas que apresentavam os sintomas mais agudos, como bronquioespasmo, diarreia, gastroenterite, muita lesão de pele, principalmente de membros inferiores. Agora lá estão acontecendo outras questões, o cenário já mudou”, revela Lethícia.
Apesar de toda a tragédia, todas elas em uníssono dizem que a vivência dessa catástrofe trouxe o entendimento de que o ser humano pode contar sempre com a compaixão de outras pessoas e que, apesar de todo o sofrimento, sempre haverá um novo dia, novas esperanças e sonhos sendo transformados em realidade.