Saída do Acordo torna EUA um país isolado na questão climática
O anúncio feito pelo presidente americano Donald Trump sobre a saída dos Estados Unidos do Acordo do Clima de Paris, nesta quinta-feira, faz do país uma nação isolada em questões climáticas. Segundo Suzana Kahn, presidente do comitê científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), decisão pode levar as quase 200 nações que assinaram o Acordo a se unir e ganhar uma força considerável para combater as emissões de carbono. China e União Europeia poderão despontar como importantes lideranças políticas no tema.
“A repercussão do anúncio foi politicamente desastrosa. Comunicados feitos por diversas nações, incluindo a China, maior poluidora mundial e atual líder na busca por energia limpa, sinalizam que os países não irão abandonar o Acordo e devem continuar comprometidas com a redução das emissões até o fim deste século. Os Estados Unidos são o segundo maior poluidor do globo — contudo, não é o único e, se todos os países estiverem unidos para combater os combustíveis fósseis, terão muita força e o impacto será considerável. A sensação que temos, após o anúncio, é que os americanos ficarão isolados. Resta saber qual o movimento dos demais países nos próximos dias”, afirmou Suzana, que é professora do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Impacto ambiental
O comprometimento das nações signatárias do Acordo de Paris é um esforço coletivo para limitar o aumento das temperaturas mundiais em menos de 2°C, idealmente, em 1,5°C, até o fim deste século. O desafio dos países, portanto, é balancear as emissões de carbono, principalmente as provenientes da queima de combustíveis fósseis que têm mais influência no clima, para não ultrapassar o limite. De acordo com a especialista, Estados Unidos e China, sendo os maiores poluidores mundiais, têm papel importante para o equilíbrio mundial das temperaturas.
“É um problema que os Estados Unidos não tenham interesse político em reduzir as emissões, o que pode atrasar ainda mais a redução das temperaturas e tornar ainda mais cara a adaptação a um mundo mais quente e com eventos extremos, como secas e enchentes”, afirma Suzana. “Contudo, os objetivos do acordo se estendem por décadas e vão muito além de um mandato presidencial. É possível que haja um atraso, mas não um retrocesso.”
Além das emissões, outro ponto previsto pelo Acordo de Paris é a criação de um fundo anual de 100 bilhões de dólares, financiado pelos países ricos, a partir de 2020, para manter o aquecimento global em níveis reduzidos. Esse fundo deve ajudar os países mais pobres que sofrem as consequências das mudanças climáticas e a saída de uma das nações mais ricas do planeta do fundo deve minar parte dos recursos.
“A curto prazo, teremos menos dinheiro para auxiliar os países mais vulneráveis, como pequenas ilhas e regiões muito pobres, que sofrem o impacto direto das mudanças climáticas. Esses países devem sofrer com a atual decisão americana”, afirma a professora.
Há impacto para o Brasil?
O Brasil não é uma das regiões que tem necessidade dos recursos do fundo, contudo, por termos uma ampla costa litorânea e grandes cidades de urbanização caótica, o país é bastante sensível a pequenas mudanças nas temperaturas. Se elas não forem contidas, o impacto para os brasileiros deve ser sentido nos próximos anos.
“Uma pequena elevação nos termômetros leva a enchentes, secas e alagamentos que são catastróficos para nossas cidades. A população deve sofrer danos ainda maiores nos próximos anos se as temperaturas não se equilibrarem. Além disso, grande parte de nossa economia é baseada em recursos agrícolas, um setor que é fortemente atingido pelas mudanças climáticas. Sem uma redução de temperaturas podemos esperar secas intensas nas regiões Norte e Nordeste”, diz a especialista.
O Acordo do Clima de Paris
O acordo, firmado em 2015 na capital francesa por quase 200 países, pretende limitar o aquecimento global e em grande parte se baseia no corte do dióxido de carbono e outras emissões resultantes da queima de combustíveis fósseis. Segundo o pacto, os Estados Unidos se comprometeriam a reduzir suas emissões em 26% a 28% dos níveis de 2005 até 2025.